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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Vinícius de Moraes, o infinito e o egoísmo.

Soneto da Fidelidade
Vinícius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Cada pedaço de mim grita pelo imortal, pelo que não tem fim. Mas o desespero vem quando sei que sou finito. Queria não ter a certeza que um dia não sentirei seu toque, queria ter a certeza que seu beijo é imortal. Mas não possuo. Por tal, a idéia da morte, mesmo que linda, me assusta.
Não tenho medo do fim, eu sou nada e nada serei depois dele. Mas tenho medo de te perder, és tudo que tenho, tudo que amo. Então, quão egoísta sou. Não me prendo a você para te fazer companhia, te amo apenas por mim mesmo. E não quero que vá unicamente por mim. Será que te amo tanto? Ou será que amo somente a fantasia de felicidade que tenho ao seu lado? Tudo que fiz por ti, tudo que seria capaz de fazer por você. É simplesmente para não ficar sozinho. Por isso eu não me entendo. Sou egoísta até no amar. Isso foi meu prêmio por ser humano. O egoísmo. Todos são egoístas quando amam, não fazem nada pelo outro, fazem aquilo tudo por si próprio, para não ser mais um infeliz solitário.
De certo te amo e não quero te deixar, mas isso apenas por mim. Não tenho medo de te perder, tenho medo de me perder quando fores embora. Então, tenho que assumir:


Por mais longo que seja, se nosso amor tiver um fim. Não estarei pronto para ele.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O sofrer, a lágrima e a angústia.

Minha primeira lágrima.


Por quer sofrer? Eu sinto a angústia em mim e não posso desistir agora. Não tenho forças para seguir em frente, mas não tenho coragem de voltar. Tudo que posso fazer é me entregar. Que venha a guerra, a dor e o insulto. Pois prefiro me perder ao simplesmente cair e não mais erguer a cabeça. Eu não entendo a mim mesmo.
Nunca havia chorado antes, será que fui tolo suficiente para me enganar tanto tempo? Mas hoje me entrego, sinto que tenho que sofrer. Somente o sofrimento pode me ajudar a encarar a vida, somente ele pode me dar um objetivo. Então, me deixe sofrer, quero sentir a dor. Somente ao ser infeliz, irei querer ser feliz. Por isso sempre fui incompleto, não entendi o sofrer. Apenas passei por ele, de forma inumana e fria, nunca realmente sofri. Mas sofrer é tudo que quero.
Ajude-me a sentir dor, somente ela pode despertar o que nunca senti. Somente a angústia me faria humano, somente o ódio me traria o amor. Faça-me deixar de ser frio e eu serei seu. Me faça te amar e sempre te dedicarei cada momento do meu viver. Quero apenas sentir algo que não seja egoísmo. O mundo ao meu redor parece tão vivo, eu, no entanto, sou morto e fugaz. Enfim, cansei do nada e tudo quero. Mesmo que esse “tudo” seja apenas outro nome para o sofrimento. Afinal, de que outra coisa é feito o mundo senão o sofrer?

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O poder, o querer e o tempo.

Eu quase posso te tocar, quase sinto seus beijos. Tudo em você vive em mim, cada toque seu, por mais imaginário que seja, me faz viver. A dor no meu peito não mais me sufoca, a vida não mais me deixa. Porém, existe outra dor que me faz sofrer, mas esta não é natural. Essa dor não é parte de meu corpo mortal, ela é unicamente sua ausência. Pois, mesmo que eu saiba que és apenas minha, não posso te ter. Não posso te ter porque sou irreal. Sou fruto de sonhos, criado a tua imagem; sou algo que não consigo encarar. Eu sou eu mesmo.
Não consigo te tocar, mas anseio por tuas caricias. Não consigo te amar, mas o que mais desejo é seu amor. Eu te odeio por minha incapacidade, não te entendo unicamente por não me entender. E sei que todas as palavras escritas por ti eram as mais puras verdades, enquanto as linhas redigidas por minha mão eram apenas sentimentos vagos de algo maior que nunca senti. Então me sinto mentiroso, enganador e podre. Sinto que não mereço o que mais desejo: seu amor. Então aceito o sofrer e o fim. De tão iludido que sou, cheguei a pensar que poderia te amar.
Então me deixe, não me ame. Não posso retribuir seus sentimentos, sou confuso. Tudo que me importa é o tempo, ele é meu mestre e é a ele que amo, apesar de não desejá-lo. Queria te amar também, mas não posso. Apenas desejo é do que disponho para coisas que podem ser evitadas, posso amar apenas aquilo ao qual não consigo evitar ou impedir. Não ligue também para a lágrima que corta meu rosto, ela é serva do tempo e por ele será apagada. Meu desejo também padecerá. Nada de ti sobreviverá em mim. Apenas o tempo é infinito. Mas te garanto, enquanto for vivo, sonharei contigo. E depois da morte — minha grande liberdade — serei finalmente nada e não mais irei te querer. Somente o tempo será meu companheiro, serei feliz.


Uma verdade:
A mão que escreve não é aquela que fala, é a que sente.

sábado, 3 de julho de 2010

Uma pequena nota de rodapé.

Ultimamente tenho sido perguntado sobre a origem dos textos. Então, quero deixar bem claro: todos os textos são escritos por mim. Eu, Rogerio Murdoc, criei o blog e escrevo todos os textos aqui publicados. Salve algumas citações alheiras, mas que são referidas aos seus respectivos autores. Também quero pedir que qualquer reprodução do que aqui for postado, tenha meu nome como crédito final. Obrigado a todos que lêem meus devaneios e até o próximo texto.

O deus, o prisioneiro e a fé.

Como pode um prisioneiro abandonar Deus?


Se nada tenho em mãos, se nada pode me salvar. Por que Deus? Sei que não posso temer frente à cruz, sei que minha vida se extinguirá da terra. Eu sei que serei nada, mas não sei o porquê de crer. As minhas lágrimas secaram, assim como minha mão e meu coração. Apenas o tormento me aguarda, já que um deus feito de tantas amabilidades não me aceitaria.
Não, ele nunca me aceitou. Talvez por isso eu sofra e mate, o seu amor é meu ódio. Por isso nunca chorei, minhas lágrimas seriam sua força. Eu apenas caminhei e gritei. O desespero não foi consolado, o medo não se esvaiu e eu não senti seu amor. Onde está Deus? Nem ao menos sei seu nome, não poderia sentir sua mão. Você nunca me foi colega, sempre foi superior. Como poderia amar algo que tanto me ama? Não, eu não amo e não acredito. Sinto muito.
Então me deixe, liberte as correntes. Seria hipocrisia dizer que tenho certeza, mas também seria esconder minhas dúvidas. Então me deixe, eu não queria o livre-arbítrio, não te queria como pai. Como pode me testar tanto? Não te dei esse direito. Por fim, me rendo. Sou mortal e incompreendido, assim como falastes que eu seria. Mas mesmo imperfeito como você me fez, tive a capacidade de te criar e tenho o direito de não acreditar.