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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O importante, o erro e o sonho.





O que sei não me importa mais. A morte me é companheira e apenas dela posso tirar proveito. Por que cada momento da vida de uma pessoa pode ser decisivo? Pensei que poderia ignorar o desejo e cada sonho meu, que podia simplesmente apagar o exemplo que fui e criar um novo exemplar. Débil esperança de vontade consumada em erros irrecuperáveis. Breves segundos de felicidade insana e longos anos de arrependimento amargo. O amor tende ao ódio e o ódio apenas leva a morte. E minha morte foi premeditada, escolhida e assistida. Não morri fisicamente, apenas decai. Murchei lentamente, enquanto cada sentimento se tornar apenas espelho do desgosto que te tenho e da infelicidade de não te ter.
O que me iludiu já não importa mais. Aqueles olhos são simples ilusões, caminhos sem fim. Aquilo que eu entendo por sonho sempre me conectou a realidade. Assim como o que eu entendo por loucura é a linha tênue que me mantêm sóbrio. Aquelas últimas palavras eram verdades, você me abandonou. Enquanto aquelas primeiras não tiveram valor, você nunca me amou.
Agora, que me é chegado o fim, apenas deixo o adeus e o exemplo. Aquele exemplo feito dos erros que não posso mudar e o adeus composto do pouco amor que me resta. Talvez um abraço também me acompanhe, mas somente aquele que me abrace a alma e não o corpo. Nunca gostei de toques físicos e só os julgo necessário quando a pessoa pode me abraçar a alma e me abarcar o choro real, não o de lágrimas. E, com o fim, início o meu sonho: o de uma terra sem a minha dor, o de uma realidade sem mim. Onde meu nome é mentira e meu sofrer ilusão. Agora, que me é chegado o fim, digo que te amo e reconheço que só sou capaz de tal agora não tenho saída. Mas não se preocupe, não é o fato de morrer que me faz te amar. A morte só me faz falar o que eu passei a vida guardando em segredo.

domingo, 26 de setembro de 2010

O anjo, a queda e o entendimento.

O filho cai pelo pai,
A morte nasce pela mãe,
O fim vem pelo espírito.


O frio era apenas frio e a escuridão apenas o vazio. Ele não sabia exatamente o que fazer, mas, pelo menos, se via livre da sensação de terror. O inverno que um dia fora morte, não mais existia, e a faca um dia usada podia ser guardada. Os doces sonhos de seu caminho não lhe faziam sentido, pobre alma perdida. O que ele poderia fazer? Como prever o fim? Nada mais solvia seu raciocínio, ele finalmente podia se enxergar: ver como era inferior, tímido e triste. Como era sozinho e sem vida.
Aqueles sentimentos de amor eram apenas mentiras e aquele beijo somente desejo. O fim nunca fora tão próximo de um ser e a dor tão confortante. O pequeno garoto existia por entre as próprias palavras e se fazia por sobre os mesmos sonhos. Não lhe fariam feliz, ele tinha plena certeza disso. O sangue que percorria sua veia era o único motivo para continuar a caminhada, mesmo que o destino fosse apenas o nada.
O cemitério então se materializou, há quanto tempo ele estava ali? Sempre fora perdido por sobre os próprios conselhos. As suas asas derreteram quando ele chegou muito perto do sol, e ele caiu. Simplesmente decaiu, pois nem mesmo o deus que o criou entendia seu ser. E a tristeza em seus olhos em momento algum foi interpretada. Ele não sabia exatamente o que fazer. Pobre humano que um dia foi anjo. Assim como todo ser, ao nascer perdemos nossa perfeição. As lágrimas cortaram sua face, caíram sobre a terra.
O fruto o havia feito cair, as ordens criadas para serem quebradas não deviam existir. E o mais triste era que a dor lhe consolava. A morte lhe trazia forças e o choro divino não lhe importava. Qual fora o erro de Lúcifer? Apenas nascer. Naquele momento o frio deixou de ser a ausência de calor, transformou-se nas lágrimas de deus. A escuridão abandonou o nada, naquele instante era a solidão. O anjo condenado não era por todo maligno, apenas não entendido. O divino pode ser bruto e feio, o sangue pode também ser o símbolo da morte.
A primeira lança se ergueu sobre ele, a simbologia completa. E a primeira rosa morreu, o fim de tudo. Mas não o julguem, apenas entendam. O mal naquele instante era o certo.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O erro, as sombras e o desejo.




O peso de minha alma, cada palavra que vive em mim.
Sei que sou aquilo que tento desenhar, mas mesmo assim não consigo me abandonar na solidão. Quis apagar cada chama de esperança de meu coração, quis dizer que não precisava do seu sofrer, mas observá-lo nunca me fez tão bem. Cada palavra de ódio, cada maldição saída de sua boca, me faz sorrir e saber que, não importa o quanto lute, sempre estarei nesta solidão infindável. De que adianta o infinito céu, sem o brilho de seus olhos?
Cada dia é infindável, cada segundo é eterno. Achei que se eu me transformasse na chuva, aquela que cria um elo até mesmo entre o céu e a terra que nunca irão se tocar, eu poderia unir nossos corações. Mas errei! A chuva só me traz lágrimas e eu, que de certa forma já me acostumei com tais, não estou feliz. Cada noite te traz uma nova sombra, cada sombra um novo rosto. Um rosto diferente do meu. E eis que chego ao inferno, com o não sentir constante e desistir vergonhoso.
Sempre fui o infinito, mas preso dentro de seu finito desejo. Entregaria-me ao nada por um beijo seu, buscaria o além por uma palavra sua. Mas nunca fui digno de tais, morreria por teu sangue, mas com a vergonha de não merecê-lo. E me ponho unicamente ao seu chamado, o seu cavaleiro sem rosto. Sempre que precisar, estarei aqui, e quando acabar irei lamentar a próxima sombra de sua vida. Pois jurei te proteger e o meu sofrer não é nada diante do seu.
Te trago agora uma única rosa. Azul e bela, única e rara. A rosa seria o meu desejo, que se cria em você e se encandeia em seus olhos. E a minha tristeza seria apenas um reflexo em tal planta, que nasce dos olhos e acaba com uma última gota. Surgindo novamente ao seu primeiro sorriso.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Os olhos, a escuridão e a solidão.



Teus olhos parecem nascidos da escuridão, mas é exatamente dela que preciso. Somente no escuro posso ser eu mesmo, somente ele pode me abraçar. Perto da escuridão, minha solidão é nada. Então não pare de me olhar, mantenha-se atenta. Por que eu não te amaria? Sua pele cândida, seu sorriso inocente, mas tudo que percebo são seus olhos negros. Escuros e profundos. Eles me deixam livres, mas é uma falsa liberdade. Cada mínimo olhar, cada palavra dita. Tudo que tenho. Qualquer coisa que consegui, mas nunca busquei. Você reflete a alma, o interior e a frieza, mas acima de tudo você encandeia solidão.
Teus olhos parecem nascidos da escuridão, pois brilham como a lua e existem apenas em parte de ti. Afastam a maldita solidão que atormenta aquilo que chamo de mente. Não sei a verdade, não a espero. Mas creio que contei cada estrela, sem perceber o quanto são lindas, estava ocupado demais imaginando como elas seriam refletidas em seu olhar. Agora não me resta mais linhas, apenas o fim.
Eu odeio o sol, odeio porque ele é feito de luz, e afasta seu olhar. Quando ele nasce, não consigo nem mesmo me lembrar do que realmente desejava. Tudo que quero é que a noite caia, para a escuridão de seus olhos novamente tomar conta do mundo, e o tempo que passarei sem vê-los parece sem importância, até o sol raiar novamente. E somente algo me consola: a imortalidade dos mesmos. Sejam em minhas palavras, ou nos mais belos quadros, eles são imortais. Sempre existirão, mesmo quando nada sobrar para admirá-los.
Então definho sorrindo, sabendo que apenas uma vez mais sentirei o alivio de te ter me fitando. Mais uma vez me sentirei livre e velarei minha solidão na escuridão de seus orbes.

sábado, 28 de agosto de 2010

O fim, as lágrimas e a primavera.

Eu estou bem agora, está tudo acabado e por isso eu não preciso mais chorar. Mas por que as lágrimas continuam? Será que eu errei em todos os pontos ou é porque eu sou um completo idiota? Creio e sofro por não ter todas as respostas, mas sofro ainda mais porque é impossível não te amar. Eu sempre me achei forte, nunca precisei realmente dizer o que sinto. Mas acho que perdi minha máscara, no mesmo instante em que te desejei pela primeira vez. Nunca duvidei de que nem tudo era infinito, mas não consigo contar nos dedos quantas vezes disse a mim mesmo que isso nunca iria acabar.
O quão perturbado eu sou? Não sei, mas estou bem agora. Compreendo que sou repulsivo, que não entendo o porquê de minha solidão. Meus atos abomináveis, minha fé inabalável. Eu nunca estarei bem. Não desta forma que você ver o “estar bem”. Eu nunca serei verdade, não da forma em que se espelha a realidade. Sempre disse que sou nada, te disse que eras meu tudo. Mas não quero que sejas destinada ao nada. Porque, simplesmente, amo você. Amar não está no ficar ao lado ou no abraçar, amar está no sofrer por quem deseja.
Mas eu estou muito bem agora, minhas fantasias me acalmam. Eu não preciso dessas lágrimas e posso deixá-las para trás, mas é uma pena que o que eu quero ser também tenha ficado na última curva. Eu queria existir em seus olhos, mas me contento com sua existência em meu coração. Então, confie em mim quando digo, a droga que te alimenta não será o necessário para me esquecer. Acredite quando digo que a face que você conheceu de mim, existia apenas por te amar. E a única coisa que realmente me faz se arrepender é se algum dia eu te fiz sofrer.
Eu já te disse que as folhas falam? Sim, elas sempre me contam os sonhos. E eu costumo cair junto com elas, mas apenas no outono. Creio que está época chegou, eu vou cair sorrindo, pois ainda posso te amar. E o meu sofrimento fugaz, vai desaparecer quando eu tocar o chão. E nada mais existirá; apenas sua memória, seus olhos e o meu sorriso, por ainda ser capaz de vê-los.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Um cigarro, um conto e um suicídio.

A última noite.


Solidão... eu sou feito dela. Agora é mais fácil de perceber. Mas isso não é nada novo ou digno de admiração, minha percepção se dar apenas por estar só. Somos feitos daquilo que mais sentimos. O meu cigarro é a única companhia, pousado suavemente no cinzeiro. A fumaça branca subindo lentamente e descrevendo alguns círculos no ar antes de desaparecer por completo. É tão mais fácil para ela, apenas: surgir do fogo, voar livre e em seguida desaparecer no nada. Tudo mais singelo e infame, sem sofrimentos ou choros desnecessários. Já a minha vida não é assim. Eu nasci do nada, mas sou obrigado a viver entre o tudo. Não tenho tanto valor quanto o que me cerca, mas eles estão à meu mercê. Seria uma prova da injustiça no mundo? Não sei.
Mas sei que a noite já estar chegando ao fim, a luz do sol entra pelos espaços da cortina e cortam a sala em pequenos feixes. Não tenho tanto tempo para escolher, não o quanto desejava. A vida é feita de escolhas, começa em uma escolha única e essa se desenrola em muitas... Um círculo grotesco de escolhas e decisões erradas. Grotesco, sim, mas não infinito. Mas o pior é que não são apenas as minhas escolhas que me afetam, as pessoas ao meu redor fazem com que as próprias “escolhas” me tirem dos eixos certos. A minha esposa, por exemplo, escolheu me deixar. Ir porta afora, viver em um mundo de realidades que me assustam e em uma verdade onde eu não quero habitar. Enquanto eu escolhi viver em uma fugaz película de ilusões, o mundo fantasioso da minha mente. Percebam... apenas escolhas, escolhas erradas. Não me atrevo a dizer quem errou, mas afirmo com certeza que sempre existem escolhas erradas, sejam solitárias ou em conjunto.
Mas vamos pular algumas partes de minha história, não a acho digna de importância. A única coisa que pode fazer com que ela se torne digna de lembrança são esses últimos minutos. Por isso escrevo. As minhas mãos suam, meus olhos derramam as lágrimas que tanto desejei.

— Droga! Manchei o papel. —

Não tenho o porquê de continuar assim, me diga de que serve o tanto sofrer se ele não tem um objetivo? A minha vida inteira foi sem sentido. Apenas acordar, organizar minha aula, tomar uma xícara de café e jogar um pouco de conversa fora. Creio que a única coisa que me manteve todo esse tempo foi o amor dela, mas ele não existe mais. O homem tem o enorme talento de acabar com tudo que lhe é importante.
Agora estou aqui. Frente a minha escrivaninha. Uma caneta, alguns papeis, um revolver e várias lágrimas são o que me resta. Quero usar ao menos os primeiros itens para algo que tenha alguma utilidade. Entendam o meu sofrer e não me julguem. Também não tenham pena de mim. Apenas me entendam. Sou um miserável ser sem saída, o leste e o oeste me levam ao fim. Em vida tive duas companhias, a filosofia e meu amor. A primeira nunca me abandonou e a tenho em meu último momento. A segunda, bem... é por ele que estou aqui.
Eu te amei em todos os momentos da minha vida, te desejei em cada segundo puro de viver. Agora não posso mais te ter, então, por lógica, é o fim. Um homem nasce para uma mulher, eu nasci para ti e morrerei por ti.
A angústia não me deixa continuar, então apenas entenda uma coisa:
“Eu te amo, sempre te amei. Sempre te amarei e nunca te esquecerei. Sou parte de um tudo por te amar, e serei parte de nada por te querer. O amor não tem começo, já se nasce com ele. Mas tem um fim, um sublime fim. Eu estou neste final e ainda te amo.”

O revolver disparou às 5:45 da manhã.





Uma pequena nota de rodapé:
Este conto não tem o mesmo objetivo de outros. Não tem a função de narrar uma pequena historia mantendo um clímax do começo ao fim. É uma obra mais humilde. Apenas um monólogo fictício de um perturbado personagem que vive em mim.

sábado, 14 de agosto de 2010

A meta, a promessa e a culpa.

Eu desejo o que não entendo. A felicidade não é minha meta, apenas a tristeza me distrai. Eu busco o fim e desejo cada segundo de sofrimento. Desejo cada grito de dor, cada gota de sangue, isso me faz sentir-se vivo. Já que não posso viver amando, quero ao menos viver sofrendo.
Minha promessa foi não te amar, mas não faço de tais palavras minhas. Eu não te amo porque não consigo e me odeio por não poder. Minha vida, sempre de infundada busca, se baseou no objetivo de ser algo, mas isso é demais para mim. Conformação é o meu estado natural, mesmo assim me machuca mais que tudo a idéia de não conseguir te sentir. Cada vestígio de amor morreu dentro do meu ser. Eu não amo mais nem aqueles em que confiei. A solidão é tudo que me resta, que belo destino... Admirável objetivo.
Mas ainda não escrevi a pior parte, aquela em que a culpa é unicamente minha. Eu mesmo matei cada pedaço de vida dentro de minha alma. É minha própria sina, por isso não rogo a ninguém, apenas a mim mesmo, por ser tão vazio. E o que consegui com isso? O homem é um ser patético, chega a implorar pelo “sofrer” apenas para sentir algo. Sou tão insuficiente, tão incompleto, que não percebo que sou tudo e assumo que sou nada. Baseio em mim mesmo o meu sofrer e não o consigo. Nunca me senti vivo e, se assim continuar, nunca me sentirei.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A noite, o sonho e o que nunca existiu.




Nos sonhos irreais que tive.
Nas noites em que me deleitei.
Nos papéis em que seu rosto imaginei.
Nunca fui seu, nunca fosses minha.
Isso nunca existiu.




domingo, 8 de agosto de 2010

O sangue, o vazio e o pecado.

O sangue... É como se cada pensamento mórbido fosse um pecado. A vontade e a dor. A inveja que sinto, a descrença que me corroí. Eu sou infame, fugaz e maldoso. Sou obra de um deus perverso, pois não posso amar. A era dos homens não chegou ao fim, ela nunca existiu. Cada máscara sempre escondeu uma besta, cada vago sentimento sempre foi um caminho para o sofrimento. O quão egoísta eu sou?
Nunca estive com medo, nunca realmente temi o fim. Adianta a aparência fria e forte? Por dentro eu sou um nada, apenas mais uma alma torturada por nada entender da vida. Sou fantasia lesada, túmulo de poucas felicidades. Ser sem vida, que sonha ser imortal. Por que não posso provar de seu amor? Um toque frio sempre me assustou, mas não percebi que era o meu. A dor que sinto, o ódio que me consome. Que venha a guerra, ela me mantém vivo. Cada vez que sou ferido me sinto vivo, mas quando o ferimento sara, sei que nunca fui realmente um ser vivente.
Fui feito assim, para ser vazio. Que deus se ocuparia com isso? Eu amaldiçôo cada criação, simplesmente porque existo. Eu odeio cada rosto, simplesmente por não ser o meu. Acho que aquele que me criou é tão vazio e egoísta quanto eu sou. Sofro por não sofrer, invejo por não amar. Sou confuso porque não me entendo e não acredito porque não existe.
O sangue novamente... somente ele me mantêm vivo. Seria um homem capaz de viver unicamente porque o sangue ainda corre em suas veias? Eu sou. Vivo simplesmente porque meu coração continua a bater, mas sou vazio. Sou livre das emoções que fazem um homem, livre das alegrias que fazem a vida possuir valor, privado das dores que constroem uma personalidade. Sou e sempre fui nada.



Uma verdade:
Dizem que muitos escrevem sobre algo que querem ser,
mas que poucos descrevem o que realmente são.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A auto-piedade, o real e o eterno.

"Nada é real o suficiente."


Cada pedaço meu grita por piedade
, mas mesmo assim a voz não sai. Se tiver que sofrer, sofrerei. Mas se é apenas a morte que me resta, me deixe ir em paz. Nada na terra é real o suficiente para mim, nada nem ninguém. Sou incapaz de assumir a realidade, pois sou inexistente. Não me canso de repetir: nada sou e nada serei. Não me canso de afirmar que, por mais que me ame, sou e não deixarei de ser apenas um sonho.
E, como irreal que sou, não posso amar. Não posso viver, pois não posso te ter. Quero então, ao menos sofrer. As lágrimas que cortam meu rosto são reais, ao menos. Por mais que doa assumir, seu amor é a única coisa que me liga ao viver. Seu toque é meu único desejo, seu amor é tudo que anseio. E seus olhos são as únicas coisas que me guiam. Mesmo que seja noite adentro, ou em rumo à solidão, sou guiado por você. Então, me faça esquecer. Se não pode me tornar real, me liberte do viver. Não quero viver em sonhos e não serei apenas eles. Mesmo que seus olhos sejam infinitos, não quero viver apenas deles, mesmo que seu amor seja perfeito, não creio eu ser forte o suficiente para agüentar.
Vamos... deixe que eu desapareça. Sempre serei nada, mesmo que perto de ti eu tenha sentido que ser algo. Mesmo que eu te ame, tenho que me entregar a realidade. Só existo em sonhos, por isso não posso viver. A única explicação para ainda resistir ao fim, ainda encarar tal tormento e não me entregar ao sofrimento eterno de não existir, é te amar. Vivo porque te amo, existo por te amar. E deixarei de existir, quando seu amor se acabar e finalmente eu puder voltar ao nada. Onde tanto sofri, mas que é muito melhor que uma realidade sem você.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Vinícius de Moraes, o infinito e o egoísmo.

Soneto da Fidelidade
Vinícius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Cada pedaço de mim grita pelo imortal, pelo que não tem fim. Mas o desespero vem quando sei que sou finito. Queria não ter a certeza que um dia não sentirei seu toque, queria ter a certeza que seu beijo é imortal. Mas não possuo. Por tal, a idéia da morte, mesmo que linda, me assusta.
Não tenho medo do fim, eu sou nada e nada serei depois dele. Mas tenho medo de te perder, és tudo que tenho, tudo que amo. Então, quão egoísta sou. Não me prendo a você para te fazer companhia, te amo apenas por mim mesmo. E não quero que vá unicamente por mim. Será que te amo tanto? Ou será que amo somente a fantasia de felicidade que tenho ao seu lado? Tudo que fiz por ti, tudo que seria capaz de fazer por você. É simplesmente para não ficar sozinho. Por isso eu não me entendo. Sou egoísta até no amar. Isso foi meu prêmio por ser humano. O egoísmo. Todos são egoístas quando amam, não fazem nada pelo outro, fazem aquilo tudo por si próprio, para não ser mais um infeliz solitário.
De certo te amo e não quero te deixar, mas isso apenas por mim. Não tenho medo de te perder, tenho medo de me perder quando fores embora. Então, tenho que assumir:


Por mais longo que seja, se nosso amor tiver um fim. Não estarei pronto para ele.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O sofrer, a lágrima e a angústia.

Minha primeira lágrima.


Por quer sofrer? Eu sinto a angústia em mim e não posso desistir agora. Não tenho forças para seguir em frente, mas não tenho coragem de voltar. Tudo que posso fazer é me entregar. Que venha a guerra, a dor e o insulto. Pois prefiro me perder ao simplesmente cair e não mais erguer a cabeça. Eu não entendo a mim mesmo.
Nunca havia chorado antes, será que fui tolo suficiente para me enganar tanto tempo? Mas hoje me entrego, sinto que tenho que sofrer. Somente o sofrimento pode me ajudar a encarar a vida, somente ele pode me dar um objetivo. Então, me deixe sofrer, quero sentir a dor. Somente ao ser infeliz, irei querer ser feliz. Por isso sempre fui incompleto, não entendi o sofrer. Apenas passei por ele, de forma inumana e fria, nunca realmente sofri. Mas sofrer é tudo que quero.
Ajude-me a sentir dor, somente ela pode despertar o que nunca senti. Somente a angústia me faria humano, somente o ódio me traria o amor. Faça-me deixar de ser frio e eu serei seu. Me faça te amar e sempre te dedicarei cada momento do meu viver. Quero apenas sentir algo que não seja egoísmo. O mundo ao meu redor parece tão vivo, eu, no entanto, sou morto e fugaz. Enfim, cansei do nada e tudo quero. Mesmo que esse “tudo” seja apenas outro nome para o sofrimento. Afinal, de que outra coisa é feito o mundo senão o sofrer?

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O poder, o querer e o tempo.

Eu quase posso te tocar, quase sinto seus beijos. Tudo em você vive em mim, cada toque seu, por mais imaginário que seja, me faz viver. A dor no meu peito não mais me sufoca, a vida não mais me deixa. Porém, existe outra dor que me faz sofrer, mas esta não é natural. Essa dor não é parte de meu corpo mortal, ela é unicamente sua ausência. Pois, mesmo que eu saiba que és apenas minha, não posso te ter. Não posso te ter porque sou irreal. Sou fruto de sonhos, criado a tua imagem; sou algo que não consigo encarar. Eu sou eu mesmo.
Não consigo te tocar, mas anseio por tuas caricias. Não consigo te amar, mas o que mais desejo é seu amor. Eu te odeio por minha incapacidade, não te entendo unicamente por não me entender. E sei que todas as palavras escritas por ti eram as mais puras verdades, enquanto as linhas redigidas por minha mão eram apenas sentimentos vagos de algo maior que nunca senti. Então me sinto mentiroso, enganador e podre. Sinto que não mereço o que mais desejo: seu amor. Então aceito o sofrer e o fim. De tão iludido que sou, cheguei a pensar que poderia te amar.
Então me deixe, não me ame. Não posso retribuir seus sentimentos, sou confuso. Tudo que me importa é o tempo, ele é meu mestre e é a ele que amo, apesar de não desejá-lo. Queria te amar também, mas não posso. Apenas desejo é do que disponho para coisas que podem ser evitadas, posso amar apenas aquilo ao qual não consigo evitar ou impedir. Não ligue também para a lágrima que corta meu rosto, ela é serva do tempo e por ele será apagada. Meu desejo também padecerá. Nada de ti sobreviverá em mim. Apenas o tempo é infinito. Mas te garanto, enquanto for vivo, sonharei contigo. E depois da morte — minha grande liberdade — serei finalmente nada e não mais irei te querer. Somente o tempo será meu companheiro, serei feliz.


Uma verdade:
A mão que escreve não é aquela que fala, é a que sente.

sábado, 3 de julho de 2010

Uma pequena nota de rodapé.

Ultimamente tenho sido perguntado sobre a origem dos textos. Então, quero deixar bem claro: todos os textos são escritos por mim. Eu, Rogerio Murdoc, criei o blog e escrevo todos os textos aqui publicados. Salve algumas citações alheiras, mas que são referidas aos seus respectivos autores. Também quero pedir que qualquer reprodução do que aqui for postado, tenha meu nome como crédito final. Obrigado a todos que lêem meus devaneios e até o próximo texto.

O deus, o prisioneiro e a fé.

Como pode um prisioneiro abandonar Deus?


Se nada tenho em mãos, se nada pode me salvar. Por que Deus? Sei que não posso temer frente à cruz, sei que minha vida se extinguirá da terra. Eu sei que serei nada, mas não sei o porquê de crer. As minhas lágrimas secaram, assim como minha mão e meu coração. Apenas o tormento me aguarda, já que um deus feito de tantas amabilidades não me aceitaria.
Não, ele nunca me aceitou. Talvez por isso eu sofra e mate, o seu amor é meu ódio. Por isso nunca chorei, minhas lágrimas seriam sua força. Eu apenas caminhei e gritei. O desespero não foi consolado, o medo não se esvaiu e eu não senti seu amor. Onde está Deus? Nem ao menos sei seu nome, não poderia sentir sua mão. Você nunca me foi colega, sempre foi superior. Como poderia amar algo que tanto me ama? Não, eu não amo e não acredito. Sinto muito.
Então me deixe, liberte as correntes. Seria hipocrisia dizer que tenho certeza, mas também seria esconder minhas dúvidas. Então me deixe, eu não queria o livre-arbítrio, não te queria como pai. Como pode me testar tanto? Não te dei esse direito. Por fim, me rendo. Sou mortal e incompreendido, assim como falastes que eu seria. Mas mesmo imperfeito como você me fez, tive a capacidade de te criar e tenho o direito de não acreditar.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O sonho, o desejo e a incerteza.

"O inexistente é real na mente de um sonhador."


Eu te tenho em meus sonhos, eu te tenho em minha mente. Você está presa em cada pedaço de mim. Eu te amo. Teus olhos, frutos de minha imaginação, são os mais belos existentes e seu toque é o mais doce. Não posso viver sem você, por isso não existo de verdade. Sou mentira e inverdade, pois só consigo ser real em sonhos. Apenas me sinto existente entre seus braços, só acredito em mim mesmo, quando incentivado por seus lábios. Mas não consigo te tornar real, você não sai de minha mente, da mente onde nasceu. Não consigo sentir seus lábios e suas palavras de amor são apenas sonhos, sua liberdade é apenas ilusão. Seu toque é inexato, sua voz é inexistente. Você é um sonho, eu sou um sonhador.
Queria te fazer real, mas é impossível. Então, para ficar ao seu lado, eu mesmo teria que virar um sonho. Libertar-me da vida carnal, entrar no perfeito circulo do infinito. Apenas a morte me traria você, somente o não viver tornaria nosso amor eterno. Então, a aceito de braços abertos. Que venha o fim, pois, diante de ti, ele não é nada. Só peço que me dê forças, para que eu não caia de joelhos diante do beijo mórbido, para que eu encare minha liberdade como uma dádiva. Eu serei seu, e diante disso nada tem importância. Desde meu primeiro sonho, desde a primeira vez que vi seus olhos, eu tenho a certeza de que sou capaz de abdicar de tudo por ti.
Então morro, infectado por amor infundado, amando a mais bela criatura. E rezo para que a morte me ligue a você, para que ela me torne também sonho. Rezo para que o fim seja o símbolo do nosso começo. Então morro, minha alma doente enfim padece, minha mente se torna nada e eu, que antes nada era, me torno um sonho. E espero, nesse sonho, sentir seu toque eterno, sentir seu beijo infinito. Ser sempre seu.


Três coisas que sei:
1— Eu sei que é um sonho.
2 — Eu sei que é amor.
3 — Eu sei que a morte nada significa.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O ódio, a contradição e os olhos perfeitos.

Eu te odeio porque te amo demais. Eu prefiro o ódio, pois assumir que te amo seria ter a esperança de algum dia poder ao menos te tocar e eu não quero sonhar em vão. Não quero desejar teus lábios, não quero olhar em seus olhos. Por isso te odeio.
Não te amo para não mentir a mim mesmo, para não iludir a minha própria pessoa. Prefiro te ter raiva, prefiro não te falar. Aquilo que me faz mal vive em você. Sua lembrança é o que me mantêm aqui. Diante de seus olhos o infinito é apenas um ponto. Não posso amar o perfeito, então te odeio. Não posso viver em sonhos, por isso não te tenho. Tenho apenas a mim mesmo e as vãs palavras que escrevo. Tenho apenas a vida, esse conjunto de sofrimentos.
Então... Ao menos espero que me entenda, pois eu te odeio amando. Machuco-lhe de tanto que te quero. E você vive em mim, mas do que minha própria alma. Você sou eu, assim como te vejo no espelho. Então me perdoe por tudo, e saiba: sempre te amarei.



Três verdades:
1 — Ontem eu vi os olhos perfeitos.
2 — Eu os amo acima de tudo.
3 — Eu acho que os odeio, pois me assustam.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Fernando Pessoa, o poeta e a rosa azul.

Fernando Pessoa, um dia, disse:

“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.”*


Esse pequeno poema me fez pensar...
Aquele que finge o sofrer será que também sofre por fingir o amor? Será que um poeta ama, ou apenas se prende as poucas ilusões que tem da vida? Aquele que pensa em tão perfeita ilusão, que vê como tão perfeito um ser que não existe. Aquele que exprime lágrimas dos sonhos e faz cada palavra brotar como uma rosa.
O poeta é homem fugaz. Que busca sentir tanto, que pouco dura. Que busca tanta inspiração que logo a seca. Mas afinal, que homem não é assim? Não o acusaria por tal. Afinal, o homem só é feliz ao cortar a realidade, ao transcender o que senti. O real não oferece de tudo, aquele que nunca bebeu na taça do imaginário, nunca poderá dizer que é completo. Assim como aquele que vive em um sonho não poderá afirma que inteiro foi. A realidade deve completar a ilusão.
O poeta vive em busca de sua “rosa azul”. Talvez por isso ofereça tantas rosas a tantas mulheres em seu caminho, talvez por isso existam tantas cores. Quem sabe somente ao encontrar a sua verdadeira rosa, a lágrima e o amor, um dia escritos, se tornem reais.



* Poema “Auto-psicografia” de Fernando António Nogueira Pessoa (popular: Fernando Pessoa).

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A morte, a vida e o amor.

“Eu me sinto quebrado, talvez por existir demais.”


Tolas palavras que cortam o silêncio de minha mente, pensamentos rabiscados e indiretos. Não entendo, nem mesmo eu entendo. Por que tenho que existir? Seria “existir” uma sina justa? Mas não acho que a vida tenha o mesmo valor que a morte, a morte é mais sublime e decisiva, é mais linda. Eu vejo perfeição na morte. Por isso temos que esperar por ela. Enquanto a vida, essa infinidade de segundos intermináveis, nos é empurrada goela adentro. Por isso, é tão difícil viver.
Porém, a morte é um instante. A vida é um sempre. Somente vivendo consigo provar de seus lábios. Somente na vida, consigo sentir seu amor. Por tal motivo, quando finalmente recebo o meu prêmio, sinto dor ao fechar os olhos e receber o tão desejado beijo mórbido. Achei que receberia o fim da vida de bom grado e, sorrindo, caminharia para o infinito. Mas isso foi antes, antes de te amar. Antes de percebe que a morte era perfeita, mas uma perfeição que me tirava de você. Antes de percebe que eu não queria o perfeito, eu queria o imperfeito. O mortal e acabado. Eu queria o amor, não a morte. Então sinto dor, quando pensei que sentiria alivio.
A morte, sempre tão bem vista por minha alma, não se revelou como liberdade. Na verdade se mostrou como prisão, grades que me fariam sofrer. Não por me privar da vida, mas por me manterem longe de ti. Nunca poderei beijar-te os lábios, não mais sentirei seu toque. Estarei morto. Quando pensei que sorriria, chorei. Quando pensei que estenderia a mão, lutei. Pensei que queria a morte, mas, agora que ela me vem, passo a querer a vida. Decido que seria melhor ficar ao seu lado. Mas não tem volta, já atraí o fim. E nada posso fazer; nada além de me arrepender dos momentos em que desejei o final, quando deveria esperar o começo. Dos segundos que perdi chorando, ao invés de te olhando. Arrepender-me do “eu te amo” que nunca disse, e do beijo que nunca me permiti. Agora não tem volta, eu morrerei sem opções.
Mas obrigado, você me mostrou que o que eu desejava não era o certo. Seu sorriso me provou que vale a pena viver. E eu vivi, mesmo que tenha sido apenas nos últimos segundos da minha vida.


Uma verdade:
Eu espero a morte.
Mas também espero que ela não venha.
Pois, ao menos uma vez, quero a certeza de dizer:
“Eu te amo” e ser a verdade.




segunda-feira, 21 de junho de 2010

Um começo, o nada e o que sou.

Existem coisas demais para imaginar e pouco tempo para descrevê-las; tudo parece precisar de mais tempo que o que dispomos. Cada pequena palavra tem o peso de todo o meu ser. Cada pequeno sentimento transmite tudo que penso existir. Nada me mantêm vivo, assim como nada me atrai a morte. Eu sou nada. Enfim, descobri.
Talvez por isso a escrita me seja importante. Pois mesmo o nada, ao se descrever se transforma em algo. Mas não algo que mereça importância, apenas algo. Por isso não busco que me der importância, ou mesmo leia o que escrevo. Escrevo apenas para saber que existo. Porém, não nego que sou mais completo ao existir também em sua mente. Ao ler o que escrevo para ao menos ser algo, você está me transformando em algo mais. Mais do que sonhei e muito mais do que minha perspectiva de ser aceito. Por isso não aceito que sou algo mais que nada, mas mesmo assim busco algum sentido para esse nada.



“E mesmo sendo nada, e de nada valendo.
Sei que posso te amar, isso me consola.”