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domingo, 26 de setembro de 2010

O anjo, a queda e o entendimento.

O filho cai pelo pai,
A morte nasce pela mãe,
O fim vem pelo espírito.


O frio era apenas frio e a escuridão apenas o vazio. Ele não sabia exatamente o que fazer, mas, pelo menos, se via livre da sensação de terror. O inverno que um dia fora morte, não mais existia, e a faca um dia usada podia ser guardada. Os doces sonhos de seu caminho não lhe faziam sentido, pobre alma perdida. O que ele poderia fazer? Como prever o fim? Nada mais solvia seu raciocínio, ele finalmente podia se enxergar: ver como era inferior, tímido e triste. Como era sozinho e sem vida.
Aqueles sentimentos de amor eram apenas mentiras e aquele beijo somente desejo. O fim nunca fora tão próximo de um ser e a dor tão confortante. O pequeno garoto existia por entre as próprias palavras e se fazia por sobre os mesmos sonhos. Não lhe fariam feliz, ele tinha plena certeza disso. O sangue que percorria sua veia era o único motivo para continuar a caminhada, mesmo que o destino fosse apenas o nada.
O cemitério então se materializou, há quanto tempo ele estava ali? Sempre fora perdido por sobre os próprios conselhos. As suas asas derreteram quando ele chegou muito perto do sol, e ele caiu. Simplesmente decaiu, pois nem mesmo o deus que o criou entendia seu ser. E a tristeza em seus olhos em momento algum foi interpretada. Ele não sabia exatamente o que fazer. Pobre humano que um dia foi anjo. Assim como todo ser, ao nascer perdemos nossa perfeição. As lágrimas cortaram sua face, caíram sobre a terra.
O fruto o havia feito cair, as ordens criadas para serem quebradas não deviam existir. E o mais triste era que a dor lhe consolava. A morte lhe trazia forças e o choro divino não lhe importava. Qual fora o erro de Lúcifer? Apenas nascer. Naquele momento o frio deixou de ser a ausência de calor, transformou-se nas lágrimas de deus. A escuridão abandonou o nada, naquele instante era a solidão. O anjo condenado não era por todo maligno, apenas não entendido. O divino pode ser bruto e feio, o sangue pode também ser o símbolo da morte.
A primeira lança se ergueu sobre ele, a simbologia completa. E a primeira rosa morreu, o fim de tudo. Mas não o julguem, apenas entendam. O mal naquele instante era o certo.

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