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sábado, 28 de agosto de 2010

O fim, as lágrimas e a primavera.

Eu estou bem agora, está tudo acabado e por isso eu não preciso mais chorar. Mas por que as lágrimas continuam? Será que eu errei em todos os pontos ou é porque eu sou um completo idiota? Creio e sofro por não ter todas as respostas, mas sofro ainda mais porque é impossível não te amar. Eu sempre me achei forte, nunca precisei realmente dizer o que sinto. Mas acho que perdi minha máscara, no mesmo instante em que te desejei pela primeira vez. Nunca duvidei de que nem tudo era infinito, mas não consigo contar nos dedos quantas vezes disse a mim mesmo que isso nunca iria acabar.
O quão perturbado eu sou? Não sei, mas estou bem agora. Compreendo que sou repulsivo, que não entendo o porquê de minha solidão. Meus atos abomináveis, minha fé inabalável. Eu nunca estarei bem. Não desta forma que você ver o “estar bem”. Eu nunca serei verdade, não da forma em que se espelha a realidade. Sempre disse que sou nada, te disse que eras meu tudo. Mas não quero que sejas destinada ao nada. Porque, simplesmente, amo você. Amar não está no ficar ao lado ou no abraçar, amar está no sofrer por quem deseja.
Mas eu estou muito bem agora, minhas fantasias me acalmam. Eu não preciso dessas lágrimas e posso deixá-las para trás, mas é uma pena que o que eu quero ser também tenha ficado na última curva. Eu queria existir em seus olhos, mas me contento com sua existência em meu coração. Então, confie em mim quando digo, a droga que te alimenta não será o necessário para me esquecer. Acredite quando digo que a face que você conheceu de mim, existia apenas por te amar. E a única coisa que realmente me faz se arrepender é se algum dia eu te fiz sofrer.
Eu já te disse que as folhas falam? Sim, elas sempre me contam os sonhos. E eu costumo cair junto com elas, mas apenas no outono. Creio que está época chegou, eu vou cair sorrindo, pois ainda posso te amar. E o meu sofrimento fugaz, vai desaparecer quando eu tocar o chão. E nada mais existirá; apenas sua memória, seus olhos e o meu sorriso, por ainda ser capaz de vê-los.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Um cigarro, um conto e um suicídio.

A última noite.


Solidão... eu sou feito dela. Agora é mais fácil de perceber. Mas isso não é nada novo ou digno de admiração, minha percepção se dar apenas por estar só. Somos feitos daquilo que mais sentimos. O meu cigarro é a única companhia, pousado suavemente no cinzeiro. A fumaça branca subindo lentamente e descrevendo alguns círculos no ar antes de desaparecer por completo. É tão mais fácil para ela, apenas: surgir do fogo, voar livre e em seguida desaparecer no nada. Tudo mais singelo e infame, sem sofrimentos ou choros desnecessários. Já a minha vida não é assim. Eu nasci do nada, mas sou obrigado a viver entre o tudo. Não tenho tanto valor quanto o que me cerca, mas eles estão à meu mercê. Seria uma prova da injustiça no mundo? Não sei.
Mas sei que a noite já estar chegando ao fim, a luz do sol entra pelos espaços da cortina e cortam a sala em pequenos feixes. Não tenho tanto tempo para escolher, não o quanto desejava. A vida é feita de escolhas, começa em uma escolha única e essa se desenrola em muitas... Um círculo grotesco de escolhas e decisões erradas. Grotesco, sim, mas não infinito. Mas o pior é que não são apenas as minhas escolhas que me afetam, as pessoas ao meu redor fazem com que as próprias “escolhas” me tirem dos eixos certos. A minha esposa, por exemplo, escolheu me deixar. Ir porta afora, viver em um mundo de realidades que me assustam e em uma verdade onde eu não quero habitar. Enquanto eu escolhi viver em uma fugaz película de ilusões, o mundo fantasioso da minha mente. Percebam... apenas escolhas, escolhas erradas. Não me atrevo a dizer quem errou, mas afirmo com certeza que sempre existem escolhas erradas, sejam solitárias ou em conjunto.
Mas vamos pular algumas partes de minha história, não a acho digna de importância. A única coisa que pode fazer com que ela se torne digna de lembrança são esses últimos minutos. Por isso escrevo. As minhas mãos suam, meus olhos derramam as lágrimas que tanto desejei.

— Droga! Manchei o papel. —

Não tenho o porquê de continuar assim, me diga de que serve o tanto sofrer se ele não tem um objetivo? A minha vida inteira foi sem sentido. Apenas acordar, organizar minha aula, tomar uma xícara de café e jogar um pouco de conversa fora. Creio que a única coisa que me manteve todo esse tempo foi o amor dela, mas ele não existe mais. O homem tem o enorme talento de acabar com tudo que lhe é importante.
Agora estou aqui. Frente a minha escrivaninha. Uma caneta, alguns papeis, um revolver e várias lágrimas são o que me resta. Quero usar ao menos os primeiros itens para algo que tenha alguma utilidade. Entendam o meu sofrer e não me julguem. Também não tenham pena de mim. Apenas me entendam. Sou um miserável ser sem saída, o leste e o oeste me levam ao fim. Em vida tive duas companhias, a filosofia e meu amor. A primeira nunca me abandonou e a tenho em meu último momento. A segunda, bem... é por ele que estou aqui.
Eu te amei em todos os momentos da minha vida, te desejei em cada segundo puro de viver. Agora não posso mais te ter, então, por lógica, é o fim. Um homem nasce para uma mulher, eu nasci para ti e morrerei por ti.
A angústia não me deixa continuar, então apenas entenda uma coisa:
“Eu te amo, sempre te amei. Sempre te amarei e nunca te esquecerei. Sou parte de um tudo por te amar, e serei parte de nada por te querer. O amor não tem começo, já se nasce com ele. Mas tem um fim, um sublime fim. Eu estou neste final e ainda te amo.”

O revolver disparou às 5:45 da manhã.





Uma pequena nota de rodapé:
Este conto não tem o mesmo objetivo de outros. Não tem a função de narrar uma pequena historia mantendo um clímax do começo ao fim. É uma obra mais humilde. Apenas um monólogo fictício de um perturbado personagem que vive em mim.

sábado, 14 de agosto de 2010

A meta, a promessa e a culpa.

Eu desejo o que não entendo. A felicidade não é minha meta, apenas a tristeza me distrai. Eu busco o fim e desejo cada segundo de sofrimento. Desejo cada grito de dor, cada gota de sangue, isso me faz sentir-se vivo. Já que não posso viver amando, quero ao menos viver sofrendo.
Minha promessa foi não te amar, mas não faço de tais palavras minhas. Eu não te amo porque não consigo e me odeio por não poder. Minha vida, sempre de infundada busca, se baseou no objetivo de ser algo, mas isso é demais para mim. Conformação é o meu estado natural, mesmo assim me machuca mais que tudo a idéia de não conseguir te sentir. Cada vestígio de amor morreu dentro do meu ser. Eu não amo mais nem aqueles em que confiei. A solidão é tudo que me resta, que belo destino... Admirável objetivo.
Mas ainda não escrevi a pior parte, aquela em que a culpa é unicamente minha. Eu mesmo matei cada pedaço de vida dentro de minha alma. É minha própria sina, por isso não rogo a ninguém, apenas a mim mesmo, por ser tão vazio. E o que consegui com isso? O homem é um ser patético, chega a implorar pelo “sofrer” apenas para sentir algo. Sou tão insuficiente, tão incompleto, que não percebo que sou tudo e assumo que sou nada. Baseio em mim mesmo o meu sofrer e não o consigo. Nunca me senti vivo e, se assim continuar, nunca me sentirei.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A noite, o sonho e o que nunca existiu.




Nos sonhos irreais que tive.
Nas noites em que me deleitei.
Nos papéis em que seu rosto imaginei.
Nunca fui seu, nunca fosses minha.
Isso nunca existiu.




domingo, 8 de agosto de 2010

O sangue, o vazio e o pecado.

O sangue... É como se cada pensamento mórbido fosse um pecado. A vontade e a dor. A inveja que sinto, a descrença que me corroí. Eu sou infame, fugaz e maldoso. Sou obra de um deus perverso, pois não posso amar. A era dos homens não chegou ao fim, ela nunca existiu. Cada máscara sempre escondeu uma besta, cada vago sentimento sempre foi um caminho para o sofrimento. O quão egoísta eu sou?
Nunca estive com medo, nunca realmente temi o fim. Adianta a aparência fria e forte? Por dentro eu sou um nada, apenas mais uma alma torturada por nada entender da vida. Sou fantasia lesada, túmulo de poucas felicidades. Ser sem vida, que sonha ser imortal. Por que não posso provar de seu amor? Um toque frio sempre me assustou, mas não percebi que era o meu. A dor que sinto, o ódio que me consome. Que venha a guerra, ela me mantém vivo. Cada vez que sou ferido me sinto vivo, mas quando o ferimento sara, sei que nunca fui realmente um ser vivente.
Fui feito assim, para ser vazio. Que deus se ocuparia com isso? Eu amaldiçôo cada criação, simplesmente porque existo. Eu odeio cada rosto, simplesmente por não ser o meu. Acho que aquele que me criou é tão vazio e egoísta quanto eu sou. Sofro por não sofrer, invejo por não amar. Sou confuso porque não me entendo e não acredito porque não existe.
O sangue novamente... somente ele me mantêm vivo. Seria um homem capaz de viver unicamente porque o sangue ainda corre em suas veias? Eu sou. Vivo simplesmente porque meu coração continua a bater, mas sou vazio. Sou livre das emoções que fazem um homem, livre das alegrias que fazem a vida possuir valor, privado das dores que constroem uma personalidade. Sou e sempre fui nada.



Uma verdade:
Dizem que muitos escrevem sobre algo que querem ser,
mas que poucos descrevem o que realmente são.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A auto-piedade, o real e o eterno.

"Nada é real o suficiente."


Cada pedaço meu grita por piedade
, mas mesmo assim a voz não sai. Se tiver que sofrer, sofrerei. Mas se é apenas a morte que me resta, me deixe ir em paz. Nada na terra é real o suficiente para mim, nada nem ninguém. Sou incapaz de assumir a realidade, pois sou inexistente. Não me canso de repetir: nada sou e nada serei. Não me canso de afirmar que, por mais que me ame, sou e não deixarei de ser apenas um sonho.
E, como irreal que sou, não posso amar. Não posso viver, pois não posso te ter. Quero então, ao menos sofrer. As lágrimas que cortam meu rosto são reais, ao menos. Por mais que doa assumir, seu amor é a única coisa que me liga ao viver. Seu toque é meu único desejo, seu amor é tudo que anseio. E seus olhos são as únicas coisas que me guiam. Mesmo que seja noite adentro, ou em rumo à solidão, sou guiado por você. Então, me faça esquecer. Se não pode me tornar real, me liberte do viver. Não quero viver em sonhos e não serei apenas eles. Mesmo que seus olhos sejam infinitos, não quero viver apenas deles, mesmo que seu amor seja perfeito, não creio eu ser forte o suficiente para agüentar.
Vamos... deixe que eu desapareça. Sempre serei nada, mesmo que perto de ti eu tenha sentido que ser algo. Mesmo que eu te ame, tenho que me entregar a realidade. Só existo em sonhos, por isso não posso viver. A única explicação para ainda resistir ao fim, ainda encarar tal tormento e não me entregar ao sofrimento eterno de não existir, é te amar. Vivo porque te amo, existo por te amar. E deixarei de existir, quando seu amor se acabar e finalmente eu puder voltar ao nada. Onde tanto sofri, mas que é muito melhor que uma realidade sem você.